São como um cristal,as palavras. Algumas,um punhal

sábado, 8 de agosto de 2009

A carta que a Ti escrevo


Quando te conheci, desejei não te ter conhecido.
Ao conhecer-te, desejei conhecer-te.
Ao aproximar-me, precisei afastar-me, sem o conseguir.
Não soube dizer que não.

E tu segredaste ao meu ouvido cada melodia composta por ti.
Cada noite tinha a luz do luar, e o sol ao fechar a porta.
A porta que me atraía, e que dela saias tu, sempre belo e tristemente melancólico.
Melancólico como o Outono.
Estação que trouxe consigo o que mais desejei.
O que sempre precisei, o teu amor.

Pensei, que nunca fosses precisar de mim, como eu precisava de ti.
E desprezava-te, por sentir que o meu coração já não conseguia viver só.
Este ansiava por viver, no sentido literal da palavra e do verbo sentir.

Sentir algo que não fosse a solidão de ser só.
Apenas um, sozinho.
Este precisava de bater, de sentir o sangue correr.

Numa noite, fui ao teu encontro.
Tendo a lua sobre mim, e teu doce beijo senti.
Meu coração alegrou-se de não ser mais só
E entristeceu-se de correr o risco de despedaçar-se.

Teu coração uniu-se ao meu, e nunca mais foram sós.
Já não vivem na tristeza de ser apenas um, sozinho.

O Inverno trouxe consigo a chuva.
A doce sensação de sentir a chuva contigo.
De não mais sentir frio, porque meu corpo deixou de ser gélido.
Dentro dele arde o amor que não quis aceitar.
O amor que se apoderou de todo o meu ser.

A Primavera uniu o que havia ainda por unir.
Criou uma ligação mais forte entre nós.
Trouxe consigo a confirmação, do sempre.
Que o Sempre é possível contigo do meu lado.

Que contigo posso ter a vida que secretamente desejei
A vida que sempre ocultei por pensar que não realizar-se-ia.
Contigo, sei que o sonho é possível.
Que o verbo amar é real…

O Verão, trouxe o calor.
O Inferno de não te ter.
O Inferno de esperar…

Espero pelo Outono.
Para em teus braços dormir, e em teus braços ficar.

A minha gaveta

Palavras…
Essas, as escondi, numa gaveta.
E só eu tenho a chave dessa gaveta.
Nessa mesma gaveta guardo recordações.
E ainda emoções.
Emoções que não soube expressar no momento certo.
Recordações de um passado que já foi, que não volta.
Um passado abstracto que não tenho a certeza que existiu.

Esse talvez não tenha existido, porque sou eu que o criei, e a única que se lembra dele.
Nessa mesma gaveta, guardo o sofrimento.
Guardo ilusões…
Essas ilusões que foram uma amiga enquanto existiram.
Nas ilusões, estão guardadas a verdade que não quis ver.
Mas que vi.
Ao ver a verdade, ficou guardada na verdade uma lágrima,
Essa lágrima contém um pequeno sofrimento de saber que algo não existiu.

Na minha gaveta guardo recordações de pessoas.
Fotografias de rostos que mirei, admirei, apreciei.
Esses rostos são diferentes entre si, uns belos e jovens.
Outros velhos e enrugados pelo tempo.
Outros que a morte ceifou.
Outros que a saudade deixou.
Outros que já não existem, que o desgaste do tempo levou
Ou modificou…

Nessa mesma gaveta guardo uma infância que não vivi.
Que não me recordo, que os pensamentos levaram para um recanto do meu cérebro.
Uma infância, não dita.
Uma infância que cedo perdi
Uma infância que não esqueci
Uma infância roubada…

Nessa mesma gaveta guardo um eu, que desprezei
Um eu que lutou por mudar
Uma mudança que mudou tudo o resto.

Nessa mesma gaveta guardo os meus vícios, os meus segredos.
Vícios, que abandonei, outros que não consegui repudiar
Segredos que envergonham
Segredos que não são ditos, soltos ao ar para todos ouvirem
Segredos escondidos.

Na minha gaveta guardo quem sou.
Quem fui.
E talvez o que hei-de ser, e não sei…