São como um cristal,as palavras. Algumas,um punhal

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um anjo...


Vagueava pela cidade, e caía sobre mim a chuva, sentia o meu corpo ser consumido pelo frio, mas não me importava, já nada importava, continuei andando sozinha, sem ninguém do meu lado. Cheguei a um sítio onde nunca tinha estado, mas tive uma espécie de deja vu, parecia que conhecia aquele sítio. Era um jardim, um pequeno jardim. Admirei a sua beleza, era tão bonito pelo menos aos meus olhos…No meio da relva vi algo que brilhava e destacava-se no meio do verde, era algo branco.
Abracei a mim mesma para aguentar o frio e o vento, chegando perto vi que eram umas asas, umas longas asas brancas. Olhando para o lado, vi um anjo caído na relva, tinha apenas umas calças vestidas, e estava descalço, deitado sobre a relva de barriga para baixo. A sua pele era branca como a neve, e macia. Virei-o para cima para poder ver o seu rosto, era lindíssimo, nunca tinha visto até então um rosto tão bonito e perfeito como o seu. Os seus olhos eram claros, com uma cor indefinida, no entanto num rosto tão perfeito, eu conseguia ver um grande sofrimento, uma grande dor. Perguntei a mim mesma quem teria arrancado as suas asas, quem seria tão cruel ao ponto de tal brutalidade.
Abracei-o na esperança de consolar a sua dor, mas a pele dele queimava a minha, magoava-me, senti vontade de gritar de dor. Não gritei, aguentei…Ele meteu a sua cabeça sobre o meu ombro, e chorou. Ouvi uma lágrima cair lentamente sobre o meu ombro. As suas lágrimas não eram doces nem amargas, eram ácidas, e queimaram o meu ombro. E continuei aguentado a dor. O seu coração batia junto ao meu, e a sua dor atravessou o meu como um punhal, e consegui sentir a sua dor como se fosse agora a minha dor também… Ele sussurrou ao meu ouvido que estava a morrer… Desejei curar as suas feridas, arrancar dele a sua angústia. Mas ele morreu nos meus braços, a sua cabeça caiu sobre as minhas mãos, tocando eu assim nos seus cabelos que pareciam fios de ouro, os seus lindos olhos de cor indefinida estavam agora fechados, para sempre…
Levantei-me, olhei mais uma vez para ele…Abandonando o corpo do anjo naquele bonito jardim, continuando assim a vaguear sem rumo á chuva.



Abril, 2008